Icó. O Açude Lima Campos, no distrito de
mesmo nome, na zona rural deste município, no Vale do Salgado, está agonizando.
Acumula apenas 1,9% de sua capacidade. O reservatório é estratégico para o
abastecimento desta cidade e de localidades rurais. Sem recarga desde 2012, a
barragem tende a secar até junho, colocando em colapso de abastecimento
milhares de pessoas, caso não ocorra recarga na atual quadra chuvosa.
O reservatório tem
importância histórica no ciclo das secas que assolaram o Ceará. É a primeira
barragem por intervenção do governo federal, no período republicano, a partir
dos anos de 1930, no Estado. O Açude Cedro, em Quixadá, foi pioneiro nesse tipo
de obra, mas iniciado no período imperial.
Pesca em declínio
Nas margens do
açude, canoas estão encostadas. O pouco de água que resta está esverdeada e
exala mau cheiro. O pescador Valdeci Bezerra, 50, contempla a natureza. Lamenta
a chuva que tarda em chegar e vê com os olhos lacrimejados o açude secando.
"Estamos no período de defeso, não podemos pescar, mas no açude quase não
tem mais peixe", sentencia.
Os pescadores, que
durante décadas tiraram o sustento da família no reservatório, estão ociosos e
assistem a morte do Açude Lima Campos, que já foi um núcleo de produção de
tucunaré e de outros pescados de água doce que são muito apreciados pelo
sertanejo.
"A gente
ganhava menos de um salário por mês, quando tinha peixe, e antes do
defeso", afirmou o pescador, Francisco Gilson Vieira. "Muitos saíram
e foram pescar no Orós, que também está secando e não dá mais e outros foram
para o lado da Bahia buscar trabalho, meio de sobreviver". Os pescadores
mantêm esperança de que o Lima Campos vai voltar a encher. "Se Deus quiser
vamos ter muita água e peixe neste ano", disse o pescador Arnildo
Nascimento.
O Açude Lima Campos
fica próximo à sede do distrito homônimo e está localizado às margens da
estrada que dá acesso à cidade de Orós, a CE-282 (trecho da Rodovia Padre Cícero).
Durante décadas, o reservatório abasteceu as peixadas de tucunaré existentes na
vila, que atrai visitantes e viajantes de várias cidades do Ceará.
O empresário José
Gomes Loiola, o Zeca, proprietário de uma peixada pioneira na sede do distrito
de Lima Campos e funcionário aposentado do Departamento Nacional de Obras
contra a Seca (Dnocs) lamenta a situação em que se encontra o açude. "Está
praticamente seco, sem produção de peixe e até de abastecimento de água",
frisou. "É uma tristeza a situação em que se encontra atualmente".
Irrigação
paralisada
Além da produção de
pescado, o açude assegurava parte da água do Perímetro Irrigado Icó - Lima
Campos, do Dnocs, de outras vilas rurais, como Verdinha, Cascudo, Canto. Com
isso, o reservatório ajudava a viabilizar o cultivo de capim, sorgo forrageiro,
milho, e de outras culturas e grãos para a produção agrícola e manutenção do
rebanho leiteiro.
Os produtores
rurais estão preocupados com a escassez do recurso hídrico. "O nosso temor
é que o açude seque e vá trazer dificuldades para todos nós, a produção vai
cair, não teremos como alimentar os bovinos", disse o criador Marcos
Custódio.
O presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Icó, Lourival Teixeira, mostrou
preocupação com a situação do Lima Campos. "É um cenário preocupante, que
já afeta a produção agropecuária, a agricultura irrigada, que está paralisada,
e a água para a cidade", pontuou.
Abastecimento da
Cidade
O abastecimento de
Icó é administrado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), que enfrenta
enormes dificuldades para fornecer o recurso hídrico com qualidade. A água que
chega às torneiras das casas está com coloração e mau cheiro. O Órgão solicitou
apoio de técnicos da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que
orientaram sobre mudança de equipamentos e retrolavagem de filtros, além de
apontarem deficiência no modelo de estação de tratamento.
"Não sabemos
até quando o Lima Campos vai ter condições de fornecer água para Icó e tudo vai
depender das chuvas deste ano", observou o diretor do SAAE de Icó,
Deusimar Ramos. "Já perfuramos mais de 100 poços no leito do Rio Salgado e
não deu água suficiente". Os moradores da cidade enfrentam um rodízio de
40 horas no fornecimento de água.
A Prefeitura de Icó
também solicitou ao governo do Estado a instalação de uma Adutora de Montagem
Rápida (AMR) numa extensão de 18 quilômetros, com captação no Rio Jaguaribe,
mas a obra foi descartada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh). Enquanto isso, os moradores reclamam da péssima qualidade da água e
dizem que, para o consumo, o jeito é comprar garrafões de água mineral.
Enquete
Como você vê a
situação?
"Nos últimos
seis anos o açude vem perdendo água, e com isso também vem caindo a produção de
pescado. O reservatório está fechado para pesca, mas, do jeito que está, quase
não tem mais peixe"
Valdeci Ferreira
Pescador
Pescador
"A nossa
esperança é que o açude fique cheio neste inverno e o peixe venha a aparecer na
água nova. Se não receber água, não teremos como trabalhar porque vai secar tudo
até o meio do ano"
Francisco Gilson
Vieira
Pescador
Pescador
Por: Honório Barbosa
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