Uma das marcas é a cultura da mandioca, que os Tupis difundiram entre os nomâdes Tapuias, que assim ficavam sossegados mais tempo em um mesmo lugar, ocupados em colher e transformar tubérculos em farinha d'água e carimã.
Se a mandioca reinava entre os índios, transferiu seu reinado às mesas brasileiras de hoje, através das tapiocas, dos beijus, mingaus e bolos de puba, e do pirão, essa instituição nacional.
Para o folclorista Câmara Cascudo, pirão é sinônimo da própria alimentação brasileira:
"Está na hora do pirão": "Farinha pouca. meu pirão primeiro". "Sem pirão, não vai não!": "Com mulher e pirão, faz-se a função". "Sem pirão. não há eleição!": "Por cima do pirão basta um engano"
Câmara Cascudo aponta a existência de dois tipos clássicos de pirão de farinha de mandioca.
Um desses tipos é o pirão cozido ou mexido, em que a farinha vai sendo adicionada ao caldo fervente até que fique no ponto, adquira consistência.
É herdeiro de Além-Mar, dos caldos engrossados de cereais, papas e purês da alimentação camponesa européia, que os portugueses trouxeram para o Brasil e adaptaram à farinha local.
Outro tipo é o pirão escaldado, indígena, que acompanha as peixadas brasileiras, inclusive a Peixada de Lima Campos.
Pertenceria inicialmente, aos simples "escaldados". caldo quente sobre farinha, citados pelos cronistas quando o Brasil amanhecia. Esse pirão escaldado, o legítimo brasiliense, pré- colombiano, mais conhecido e mantido nos sertões e praias.
Provaria maior persistência popular porque exige "sabedoria" para espalhar o caldo quente no monte de farinha...(CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil-3.ed.São Paulo: Global.2004.)
Do livro: Bem Vindo ao Reino do Louro e da Peixada. ( José Mapurunga ).
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