O imenso sertão nordestino, mesmo estando imerso nos meses de estio, com a paisagem cinzenta predominando em toda parte, tem o caminho Icó e seu distrito Lima Campos emoldurado pela a paisagem viçosa da várzea que serpenteia. Esse oásis integrante do Reino do Loura e da Peixada, que permanece verde até nos anos de crise climática, se constitui o perímetro irrigado do açude hoje famoso, não por suas dimensões acanhadas em relação a outros açudes cearenses, mas por sua deliciosa peixada de peixes de água doce. Servida diariamente em dois restaurantes situados na praça principal do núcleo urbano e, nos fins de semana, em mais um restaurante a beira do açude, a peixada atrai moradores do Icó, e de outros municípios vizinhos e viajores que ocasionalmente passam na estrada.
Lima Campos é um núcleo urbano encostado ao açude do mesmo nome, com história e tradições próprias, que agora fala em emancipação, o que naturalmente acontecerá mais cedo ou mais tarde, mas suas profundas ligações com o Icó haverão de transcender esse possível acontecimento. Se Lima Campos é o balneário dos icoenses, uma opção de lazer para os cálidos fins de semana, o Icó, além de ter uma história que transcende ao passado da região, é a referência comercial, de serviços e de cultura de Lima Campos. Uma espécie de irmã mais velha ou metrópole regional, guardando as devidas proporções. Afinal, ir de um localidade a outra, é como ir de um bairro ao centro de uma cidade maior, sem a desvantagem do trânsito congestionado. Se o povo de Lima Campos vai em massa para a festa do Senhor do Bonfim em Icó, o pessoal do Icó não perde a festa de São Sebastião em Lima Campos. Uma frase muito dita na região: O que seria do Icó se não fosse Lima Campos e o que seria de Lima Campos se não fosse Icó?
Mas a interdependência entre as duas localidades não termina aí. Icó e Lima Campos constituem uma simbiose com forte potencial turístico. O Icó oferece ao visitante a paisagem urbana de séculos passados,sobrados, igrejas e outras construções de inestimável valor histórico e arquitetônico do nordeste brasileiro ( do ciclo do gado e do algodão) que são cenários de um universo de lendas e histórias que beiram ao fantástico. Esse atributo se potencializa quando associado á forte tradição religiosa da cidade, de padrões arcaicos, e com a convivência com um povo alegre, cordial, de auto-estima elevada, que cumprimenta os visitantes nas ruas e que é extremamente gentil, revelando a clara intenção de honrar o rico passado de sua cidade. Lima Campos, por sua vez, oferece a história viva de uma intervenção governamental, no que se refere ás secas, feita a partir dos anos de 1930 e que se mescla com a cultura dos diversos sertões de origem dos migrantes que ocuparam sua área.
A peixada de Lima Campos materializada essa fusão. Há quem atribua a origem da peixada aos tempos difíceis da construção do açude, quando flagelados das secas, os casacos da obra reforçavam a parca alimentação oferecida pelo governo, pescando na água gorda dos poços ainda sobreviventes no leito do rio São João, barrado para fazer o açude, nos idos de 1932. Há quem diga que se originou com a implantação da piscicultura no açude, em 1934, e com a introdução do tucunaré, peixa amazônico que passou a fazer parte do universo alimentar sertanejo.
Do livro, Bem Vindo ao Reino do Louro e da Peixada ( José Mapurunga)
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