quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

AÇUDE LIMA CAMPOS É DESTAQUE NO DIÁRIO DO NORDESTE


Icó. O Açude Lima Campos, no distrito de mesmo nome, na zona rural deste município, no Vale do Salgado, está agonizando. Acumula apenas 1,9% de sua capacidade. O reservatório é estratégico para o abastecimento desta cidade e de localidades rurais. Sem recarga desde 2012, a barragem tende a secar até junho, colocando em colapso de abastecimento milhares de pessoas, caso não ocorra recarga na atual quadra chuvosa.
O reservatório tem importância histórica no ciclo das secas que assolaram o Ceará. É a primeira barragem por intervenção do governo federal, no período republicano, a partir dos anos de 1930, no Estado. O Açude Cedro, em Quixadá, foi pioneiro nesse tipo de obra, mas iniciado no período imperial.
Pesca em declínio
Nas margens do açude, canoas estão encostadas. O pouco de água que resta está esverdeada e exala mau cheiro. O pescador Valdeci Bezerra, 50, contempla a natureza. Lamenta a chuva que tarda em chegar e vê com os olhos lacrimejados o açude secando. "Estamos no período de defeso, não podemos pescar, mas no açude quase não tem mais peixe", sentencia.
Os pescadores, que durante décadas tiraram o sustento da família no reservatório, estão ociosos e assistem a morte do Açude Lima Campos, que já foi um núcleo de produção de tucunaré e de outros pescados de água doce que são muito apreciados pelo sertanejo.
"A gente ganhava menos de um salário por mês, quando tinha peixe, e antes do defeso", afirmou o pescador, Francisco Gilson Vieira. "Muitos saíram e foram pescar no Orós, que também está secando e não dá mais e outros foram para o lado da Bahia buscar trabalho, meio de sobreviver". Os pescadores mantêm esperança de que o Lima Campos vai voltar a encher. "Se Deus quiser vamos ter muita água e peixe neste ano", disse o pescador Arnildo Nascimento.
O Açude Lima Campos fica próximo à sede do distrito homônimo e está localizado às margens da estrada que dá acesso à cidade de Orós, a CE-282 (trecho da Rodovia Padre Cícero). Durante décadas, o reservatório abasteceu as peixadas de tucunaré existentes na vila, que atrai visitantes e viajantes de várias cidades do Ceará.
O empresário José Gomes Loiola, o Zeca, proprietário de uma peixada pioneira na sede do distrito de Lima Campos e funcionário aposentado do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) lamenta a situação em que se encontra o açude. "Está praticamente seco, sem produção de peixe e até de abastecimento de água", frisou. "É uma tristeza a situação em que se encontra atualmente".
Irrigação paralisada
Além da produção de pescado, o açude assegurava parte da água do Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos, do Dnocs, de outras vilas rurais, como Verdinha, Cascudo, Canto. Com isso, o reservatório ajudava a viabilizar o cultivo de capim, sorgo forrageiro, milho, e de outras culturas e grãos para a produção agrícola e manutenção do rebanho leiteiro.
Os produtores rurais estão preocupados com a escassez do recurso hídrico. "O nosso temor é que o açude seque e vá trazer dificuldades para todos nós, a produção vai cair, não teremos como alimentar os bovinos", disse o criador Marcos Custódio.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Icó, Lourival Teixeira, mostrou preocupação com a situação do Lima Campos. "É um cenário preocupante, que já afeta a produção agropecuária, a agricultura irrigada, que está paralisada, e a água para a cidade", pontuou.
Abastecimento da Cidade
O abastecimento de Icó é administrado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), que enfrenta enormes dificuldades para fornecer o recurso hídrico com qualidade. A água que chega às torneiras das casas está com coloração e mau cheiro. O Órgão solicitou apoio de técnicos da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que orientaram sobre mudança de equipamentos e retrolavagem de filtros, além de apontarem deficiência no modelo de estação de tratamento.
"Não sabemos até quando o Lima Campos vai ter condições de fornecer água para Icó e tudo vai depender das chuvas deste ano", observou o diretor do SAAE de Icó, Deusimar Ramos. "Já perfuramos mais de 100 poços no leito do Rio Salgado e não deu água suficiente". Os moradores da cidade enfrentam um rodízio de 40 horas no fornecimento de água.
A Prefeitura de Icó também solicitou ao governo do Estado a instalação de uma Adutora de Montagem Rápida (AMR) numa extensão de 18 quilômetros, com captação no Rio Jaguaribe, mas a obra foi descartada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Enquanto isso, os moradores reclamam da péssima qualidade da água e dizem que, para o consumo, o jeito é comprar garrafões de água mineral.
Enquete
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"Nos últimos seis anos o açude vem perdendo água, e com isso também vem caindo a produção de pescado. O reservatório está fechado para pesca, mas, do jeito que está, quase não tem mais peixe"
Valdeci Ferreira
Pescador
"A nossa esperança é que o açude fique cheio neste inverno e o peixe venha a aparecer na água nova. Se não receber água, não teremos como trabalhar porque vai secar tudo até o meio do ano"
Francisco Gilson Vieira
Pescador
Por: Honório Barbosa


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