Icó. O Açude Lima Campos, um dos mais antigos construídos no Ceará, localizado no distrito de mesmo nome, na zona rural de Icó, acumula apenas 8,2% de sua capacidade e, a cada semana, perde volume por evaporação e consumo, se aproximando de um colapso. O reservatório é estratégico para o abastecimento da população de Icó e de localidades rurais, além de produção de pescado.
A perda de água afeta o abastecimento e a atividade de piscicultura, deixando centenas de pescadores sem trabalho e renda. Nas margens do açude, canoas estão encostadas. O pescado está acabando.
O reservatório tem importância histórica no ciclo das secas que assolaram o Ceará. É a primeira barragem por intervenção do governo federal, no período republicano, a partir dos anos de 1930, no Estado. O Açude Cedro, em Quixadá, foi pioneiro nesse tipo de obra, mas iniciado no período imperial.
Os pescadores que durante décadas tiraram o sustento da família no reservatório estão ociosos e assistem, desde o fim do ano passado, à crise que castiga o Lima Campos que já foi um núcleo de produção de tucunaré e de outros pescados de água doce (corró baiano, pescada) que são apreciados pelo sertanejo.
O pescador Valdeci Bezerra, 50, contempla a natureza e observa que, em fevereiro passado, o reservatório chegou a 1,9%, dizimando praticamente o pescado. "No açude quase não tem mais peixe e as chuvas que chegaram em abril e maio trouxeram um pouco de melhora", pontuou. "A nossa preocupação é ver o quadro de perda de água se repetindo".
"A gente ganhava um salário por mês quando tinha peixe, mas desde o fim do ano passado que fracassou", afirma o pescador Francisco Gilson Vieira. "Muitos saíram e foram pescar em outros açudes lá para o lado da Bahia, buscar trabalho, meio de sobreviver". O Lima Campos está localizado às margens da estrada que dá acesso à cidade de Orós, a CE 282 (trecho da Rodovia Padre Cícero). Durante décadas, o reservatório abasteceu as peixadas de tucunaré existentes na vila, que atraem visitantes de várias cidades do Ceará.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Icó, Lourival Teixeira, está preocupado. "É um cenário preocupante, que já afeta a produção agropecuária, a agricultura irrigada que está paralisada e o abastecimento de água da cidade".
Os moradores da cidade de Icó enfrentam um rodízio de 40 horas no fornecimento de água. O nível do reservatório traz preocupação para os moradores que temem agravamento da crise de desabastecimento. Já ocorre perda de qualidade da água fornecida à comunidade.
O reservatório também libera 300 litros de água por segundo, para o canal do Perímetro Irrigado Icó-Lima Campos para atender mais de 500 famílias que também dependem dele.
Recarga
Segundo o Serviço de Autônomo de Água e Esgoto de Icó, a falta de uma boa recarga hídrica na última quadra chuvosa não trouxe melhoria significativa para o sistema. "Com o baixo nível do açude, ocorre dificuldade de captação da água do açude para o abastecimento por bombeamento até Icó", disse o diretor do órgão, Deusemar Araújo.
"Há dois anos consecutivos, adotamos um sistema de racionamento, dividindo a cidade em duas áreas, que começou com 24 horas, mas agora é de 40 horas. O município vem implementando estratégias para garantir a segurança hídrica para os moradores. A liberação de água do açude Orós para o Lima Campos vem mantendo o nível do reservatório para o abastecimento de Icó. A esperança é a chegada da água da transposição do Rio São Francisco", conclui Deusemar.
Com informações do Diário do Nordeste
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