Apenas um atrasadão!
Francisco Figueiredo nasceu nos sertões de Catolé do Rocha, no Estado da Paraíba, antes de torna-se apenas o “Seu Bezinho”, próspero comerciante do ramo de automóveis em nossa Ribeira do Salgado dos Icós.
Um homem cheio de inspiração; cultuava amigos e, na maioria das vezes, esperava apenas um singelo motivo para mudar a sua rotina diária e transformar tudo em ecos de alegria.
Em mais de três décadas de convivência, presenciei um pai de família honrado, um comerciante ousado e um enorme gozador que a naturalidade da irreverência o fez muito querido por todos os icoenses.
Sua presença era suave, suas histórias motivavam e as brincadeiras serviam como alimento ao seu espírito cativante, modificando sempre a dureza da vida em lirismo permanente.
Em sua Fazenda Varzinha, zona rural de Icó, em cada recanto do enorme casarão envolto a alpendres, Bezinho tinha uma história pra contar. E nos contava uma, duas, três, centenas de vezes com o mesmo sorriso no rosto para que os outros sorrissem também de forma conjunta.
Antônio Batista (Bonitinho), Deinho Holanda, Joaquim dos Santos, Luiz Façanha, Vavá Muniz, e eu - citando apenas alguns amigos - sempre tínhamos uma agenda nos finais de semana voltada à Fazenda Varzinha.
Aos arredores do casarão, um tanque grande para os banhos onde Bezinho o batizou de “tanque show”. Uma mesa enorme de pedra, onde ele chamava do “túmulo de Antônio Bonitinho” e na outra ponta, um espaço um pouco mais elevado:
- Era o palanque dos eufóricos discursos solenes aos presentes.
Apaixonado por política, mesmo sem qualquer desejo com candidatura própria; ele não perdia comícios e assistia os oradores da TV em seu sagrado lar.
- “Bico de Ouro, por gentileza, dê o seu discurso logo. Só vim ouvi-lo e irei retornar logo, pois Dona Uléia me aguarda”, dizia ele para comigo.
E assim era Bezinho: uma resposta rápida e inteligente sempre presentes!
Certa feita, por seu convite, o acompanhei ao Iguatu.
Inauguração de uma casa de um amigo que ele muito presava e admirava: Antônio Sobreira.
Por lá, animado e com algumas doses já passando da conta, a boa turma começou a fazer perguntas. E ele gostava disso, mas antes dizia:
- “Só um segundo, para eu filosofar melhor e responder”.
E, em certo momento, insistiram com o desejo de ouvi-lo:
- “Seu Bezinho, seja sincero, João é pagador ou velhaco?”.
Todos silenciaram pra escutar a resposta:
- “Nem é pagador, nem é velhaco. João simplesmente é um atrasadão”.
A gargalhada geral de um ambiente maravilhoso naquele dia, aumentou ainda mais com a presença de Bezinho Figueiredo.
(Por Fabrício Moreira da Costa, advogado e contista).
- Na foto com seu amigo Deinho Holanda.
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