Estamos nos referindo ao ano de 1932, quando o sertão cearense sentiu a falta de chuvas e para aplacar a seca, o IFOCS(atual DNOCS)construiu, entre abril e dezembro, como alternativa o açude Estreito, atual Lima Campos, no leito do riacho São João – o possuidor do barramento, tendo além deste, como principais tributários do açude o rio Salgado e o riacho Umari.
A mão de obra principal da construção reservatório foram os retirantes da seca, que abandonaram a sua terra por causa da falta de chuva e da miséria e vieram a pé e em “pau de arara” em busca de melhores condições de vida.
Zé de Oliveira, nascido no distrito de Dom Quintino, Crato-CE, em 04/09/1912, aos vinte anos de idade, solteiro, veio nessa leva de emigrantes fugindo da seca e de imediato se empregou como operário na construção do açude Estreito.
Determinado a escapar e vencer na vida, Zé de Oliveira, se destacou entre os operários da seca e foi em pouco tempo promovido a operador do primeiro instrumento publico marcador de horas:
A “CACHORRA” , que emana um som metálico e estridente vindo de uma barra de ferro era tocada com uma marreta pelo operário graduado vindo do Cariri disposto a vencer na vida.
A comunidade aguardava o toque pra saber das horas e o sineiro, das oito da noite às cinco horas da manhã, tocada o número de marretadas igual a quantidade de horas. Logo o anúncio da hora certa começava com oito badaladas.
Zé de Oliveira, já na função de vigilante da barragem do açude, encontrou Maria José, nascida na comunidade de Mucururé, ali na região do novo açude, em 10/11/1916, aos 17 anos, casaram e foram morar no Alto de São João, no Posto Agrícola, onde nasceram os quatorze filhos.
O guerreiro da seca também foi fiscal da pesca no açude e de lancha, com companheiros, circulava n’agua para cumprir o dever.
Para melhor criar os quinze filhos, construiu um casa alpendrada na vila, e também para dar expansão ao seu lado festivo:
A residência foi palco de muitas festas, cantoria de viola, forró pé de serra, preparativos para o carnaval.
Os filhos cresceram a cada um seguuiu o seu rumo:
Francisco Panta – São Brás do Suaçui -MG; Genecilda – professora e diretora no Colégio São Sebastião; Hermino, Luzimar –motoristas do DNOCS; Juvenal Patola – trabalhou em construção civil e foi jogador de futebol do Lima Campos Esporte Clube; Raimundo em Canindé; Zezito em Belém do Pará; , Zé Dieto, Antônia Zilma, Fransquinha, Maria do Carmo – Lima Campos.
Ainda em Lima Campos, Expedito – do Balneário e Peixada, e o Deusimar.
Deusimar, o último dos quinze, é o conhecido Carrasco do Tucunaré, atual radialista, jornalista, detetive, criador do Esquadrão da Notícia em Tempo Real, o Andarilho da Notícia.
Com uma prole assim constituída, sem citar as cinco filhas de um outro relacionamento, o aguerrido Zé Oliveira tinha mesmo que se “ virar nos trinta”:
O leiloeiro nas festas do padroeiro, plantava roça no Sitio Mangueiras do Dnocs e perambulava pelas casas da região, ora a vender pequi e macaúba, ora saía com redes e colchas.
Numa de suas andanças, uma moça interpelou pelo preço das redes e colchas e achou caro o valor informado. A resposta veio rápido:
“Se a senhora não quiser fazer negócio na rede vamos fazer nas colchas!”
E assim o jovem cassaco da seca de 1932 que, pelo trabalho, foi se fortalecendo teve da população de Lima Campos o devido acolhimento.
Maria José faleceu em 13/05/2007. Quatro anos depois, em 26/11/2012, aos 99 anos, Zé Oliveira, fez o mesmo caminho à eternidade, deixando filhos e netos habitando a terra que lhe deu guarida.
Nas minhas andanças por Lima Campos não vi uma rua com o seu nome ou uma placa na barragem que uma vida inteira foi circulada pelo vigilante modelo.